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“Micélio - entre o fim e começo de tudo” nos sugere um contínuo, e nesse sentido estar “entre” denota também movimento. Decompositores e regeneradores, os fungos carregam o mistério da transformação: sua intricada malha subterrânea colabora para o fazer floresta (e matas, e mundos). Esses seres da terra, tão antigos quanto atuais, garantem sua sobrevivência precária a partir de inventivas relações de colaboração. Como conectores, são as primeiras formas de vida a emergir em meio às paisagens danificadas pela ação do homem. Talvez tais confabulações multiespécies nos ajudem a escapar da lógica da catástrofe e da ruína como únicas possibilidades de leituras do mundo onde tudo é percebido como recurso a ser esgotado.

 

A instalação de Kyria Oliveira nos aproxima desses seres pulsantes que se contorcem, criam e se proliferam em múltiplas formas por todos lugares. Os cogumelos são suas brotações e seus esporos voadores microbianos atravessam fronteiras. A partir de uma curiosidade atenta, Kyria fabula sobre uma paisagem invisível, submersa e ao mesmo tempo estratosférica.

 

Os objetos tomam forma pelo processo lento da feltragem, é na intensidade do gesto da artista em friccionar e agulhar as linhas de lã que elas se entrelaçam e ganham densidade, como num ninho, esta forma de começo. Ao agenciar ninho, brotação, ruína e tramas nas esculturas, a artista faz um elogio ao micélio enquanto figura de continuidade.

 

Para além das formas intencionais, interessa à artista trabalhar os objetos escultóricos numa reflexão sobre a ecologia política. As críticas aos sonhos de modernização e progresso já foram feitas, nos cabe o desafio imaginativo de enfrentar o protagonismo do ser humano em defesa de outros seres. A capacidade de fabular é uma forma de se manter num presente espesso e ao mesmo tempo se abrir à temporalidades múltiplas para se retomar práticas mais éticas de coabitação no mundo.

Clara Pignaton - curadora

Galeria Homero Massena, Vitória, Espírito Santo, Brasil.

 

***

 

 

A metafísica da sorte ou a ciência do azar - Bienal de Arte de Macau 2023

基里亞·奧利韋拉(Kyria Oliveira)的作品探索了紡

織品懸掛的可能性。這位藝術家通過創造簡單的、不

透明與透明、飽滿與空虛、光與影的世界,藉此試圖

對空間和觀眾提出疑問。藝術家奧利韋拉經常參加

塞爾韋拉國際藝術雙年展,展示其繪畫的質量以及

對自己喜歡的主題的日益掌握。

As obras de Kyria Oliveira exploram as possibilidades do têxtil e, regra geral, são pensadas  na suspensão. A artista cria singelos universos de formas que têm opacidade e transparência, cheio e vazio, sombra e luz, procurando interpelar o espaço e o espectador. A presença desta artista nas Bienais Internacionais de Arte de Cerveira tem sido constante, sendo reveladora da qualidade do seu desenho e do domínio crescente da matéria que prefere.

Kyria Oliveira’s works explore the possibilities  of textiles and, as a general rule, are designed to be suspended. The artist creates simple universes of forms that have opacity and transparency, which are both full and empty, with shadow and light, seeking to question  the space and the viewer. Her presence at the Cerveira International Art Biennials has been  a constant, revealing the quality of her drawing and her growing mastery of the preferred materials.

Fundação Bienal de Cerveira

 

***

 

Vestígios

Em seu percurso como artista, Kyria Oliveira investiga a imagem do passado em sua frágil forma presente. Como uma espécie de arqueologia de seu universo, coleta os desenhos criados a partir da constância do desgaste, e das intempéries nas paredes e estruturas de seu ateliê. Essa condição instável do objeto documentado determina que a artista tenha rapidez e precisão em sua catalogação. Tal observação habitará posteriormente estruturas em ferro, papéis e tecidos, materiais vivos também sujeitos à ação do tempo. A escolha por esses suportes indica que nem mesmo o registro é algo perene, definitivo.

Em Vestígios camadas recortadas ampliam a dimensão do desenho ao incorporar luz e sombra como valores tridimensionais. O jogo luminoso marca, mesmo que provisoriamente, as paredes de sua nova morada, e feito um palimpsesto, escreve histórias dentro de outras, deixando um pouco de si e levando outro tanto consigo em cada viagem”.

Clara Sampaio

curadora

Past and present are present as an image in Kyria's way as an artist, like an investigation...

Like some archeology of her universe, drawings collected from the losses, wounds in the walls and in the structure of her atelier.

This instable condition points to the quickness and precision of her work. This way of observing will remain in iron structures, papers and tissues, living materials, hence nothing is stable, or eternal...

In “Vestígios” the tissue in layers, determine the dimension of the drawings, joining light and shadow in various dimensions of its being. The light ballet determines, for unstable as it looks, new walls of new houses, like a game or words, leaving a bit behind and carrying away as much as it leaves behind.

 

Clara Sampaio (curator)

Translation: Ronald Carvalho

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“Micélio - entre o fim e começo de tudo” nos sugere um contínuo, e nesse sentido estar “entre” denota também movimento. Decompositores e regeneradores, os fungos carregam o mistério da transformação: sua intricada malha subterrânea colabora para o fazer floresta (e matas, e mundos). Esses seres da terra, tão antigos quanto atuais, garantem sua sobrevivência precária a partir de inventivas relações de colaboração. Como conectores, são as primeiras formas de vida a emergir em meio às paisagens danificadas pela ação do homem. Talvez tais confabulações multiespécies nos ajudem a escapar da lógica da catástrofe e da ruína como únicas possibilidades de leituras do mundo onde tudo é percebido como recurso a ser esgotado.

 

A instalação de Kyria Oliveira nos aproxima desses seres pulsantes que se contorcem, criam e se proliferam em múltiplas formas por todos lugares. Os cogumelos são suas brotações e seus esporos voadores microbianos atravessam fronteiras. A partir de uma curiosidade atenta, Kyria fabula sobre uma paisagem invisível, submersa e ao mesmo tempo estratosférica.

 

Os objetos tomam forma pelo processo lento da feltragem, é na intensidade do gesto da artista em friccionar e agulhar as linhas de lã que elas se entrelaçam e ganham densidade, como num ninho, esta forma de começo. Ao agenciar ninho, brotação, ruína e tramas nas esculturas, a artista faz um elogio ao micélio enquanto figura de continuidade.

 

Para além das formas intencionais, interessa à artista trabalhar os objetos escultóricos numa reflexão sobre a ecologia política. As críticas aos sonhos de modernização e progresso já foram feitas, nos cabe o desafio imaginativo de enfrentar o protagonismo do ser humano em defesa de outros seres. A capacidade de fabular é uma forma de se manter num presente espesso e ao mesmo tempo se abrir à temporalidades múltiplas para se retomar práticas mais éticas de coabitação no mundo.

Clara Pignaton - curadora

Galeria Homero Massena, Vitória, Espírito Santo, Brasil.

 

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A metafísica da sorte ou a ciência do azar - Bienal de Arte de Macau 2023

基里亞·奧利韋拉(Kyria Oliveira)的作品探索了紡

織品懸掛的可能性。這位藝術家通過創造簡單的、不

透明與透明、飽滿與空虛、光與影的世界,藉此試圖

對空間和觀眾提出疑問。藝術家奧利韋拉經常參加

塞爾韋拉國際藝術雙年展,展示其繪畫的質量以及

對自己喜歡的主題的日益掌握。

As obras de Kyria Oliveira exploram as possibilidades do têxtil e, regra geral, são pensadas  na suspensão. A artista cria singelos universos de formas que têm opacidade e transparência, cheio e vazio, sombra e luz, procurando interpelar o espaço e o espectador. A presença desta artista nas Bienais Internacionais de Arte de Cerveira tem sido constante, sendo reveladora da qualidade do seu desenho e do domínio crescente da matéria que prefere.

Kyria Oliveira’s works explore the possibilities  of textiles and, as a general rule, are designed to be suspended. The artist creates simple universes of forms that have opacity and transparency, which are both full and empty, with shadow and light, seeking to question  the space and the viewer. Her presence at the Cerveira International Art Biennials has been  a constant, revealing the quality of her drawing and her growing mastery of the preferred materials.

Fundação Bienal de Cerveira

 

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Vestígios

Em seu percurso como artista, Kyria Oliveira investiga a imagem do passado em sua frágil forma presente. Como uma espécie de arqueologia de seu universo, coleta os desenhos criados a partir da constância do desgaste, e das intempéries nas paredes e estruturas de seu ateliê. Essa condição instável do objeto documentado determina que a artista tenha rapidez e precisão em sua catalogação. Tal observação habitará posteriormente estruturas em ferro, papéis e tecidos, materiais vivos também sujeitos à ação do tempo. A escolha por esses suportes indica que nem mesmo o registro é algo perene, definitivo.

Em Vestígios camadas recortadas ampliam a dimensão do desenho ao incorporar luz e sombra como valores tridimensionais. O jogo luminoso marca, mesmo que provisoriamente, as paredes de sua nova morada, e feito um palimpsesto, escreve histórias dentro de outras, deixando um pouco de si e levando outro tanto consigo em cada viagem”.

Clara Sampaio

curadora

Past and present are present as an image in Kyria's way as an artist, like an investigation...

Like some archeology of her universe, drawings collected from the losses, wounds in the walls and in the structure of her atelier.

This instable condition points to the quickness and precision of her work. This way of observing will remain in iron structures, papers and tissues, living materials, hence nothing is stable, or eternal...

In “Vestígios” the tissue in layers, determine the dimension of the drawings, joining light and shadow in various dimensions of its being. The light ballet determines, for unstable as it looks, new walls of new houses, like a game or words, leaving a bit behind and carrying away as much as it leaves behind.

 

Clara Sampaio (curator)

Translation: Ronald Carvalho

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